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Foto do escritorDeivis R Tavares

A Ciência da NEGAÇÃO: Por que ignoramos o ÓBVIO em momentos de crise?

Atualizado: 18 de ago.

Neste conteúdo, vamos explorar a psicologia por trás da NEGAÇÃO, um mecanismo de defesa comum em momentos de crise. Utilizando as TEORIAS de FREUD, a TEORIA DO CONTROLE DE PERCEPÇÃO e o TEORIA DE DISSONÂNCIA COGNITIVA, vamos analisar como a NEGAÇÃO pode influenciar nossas decisões e ações, especialmente em situações de emergência como as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em 2024.


Descubra como a CIÊNCIA DA NEGAÇÃO explica por que ignoramos o óbvio quando mais precisamos da racionalidade.


05.05.2024 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Sobrevoo em Canoas e Região, Porto Alegre - RS. Foto: Ricardo Stuckert / PR
[Sobrevôo em Porto Alegre - RS - Foto: Ricardo Stuckert / PR - Fonte Wikipedia]

E para trazer CONSCIÊNCIA e EXEMPLOS VERDADEIROS sobre este tema vamos abordar estes assunto e teorias dentro de um dos maiores desastres climáticos que o Brasil já viveu, até o presente momento.


Recorte de texto gerado pelo Google Search Labs | AI Overview sobre o tema das Enchentes no Rio Grande do Sul em 2024

Sei que para muitos, este conteúdo pode soar desconfortável, mas honestamente acredito que o que vivemos aqui no Rio Grande do Sul, com um dos maiores desastres climáticos da nossa história ocorrido neste ano de 2024, deve ser algo que devemos MANTER em nosso “RADAR COGNITIVO” e ser relembrado de tempos em tempos, além de nos trazer importantes LIÇÕES para o nosso futuro.


Prometo que até o final do conteúdo você vai entender porque e como eu tenho mantido isto no meu radar a mais de 40 anos!!


Para aqueles que acharem o conteúdo desatualizado (falar sobre as enchentes no RGS), passados quase 4 meses (29 de abril de 2024) até a publicação deste conteúdo, deixo uma outra leitura… que corrobora a pergunta recente que me fizeram várias vezes: 


Viajei recentemente por Santa Catarina, Paraná e São Paulo e muitos me perguntavam SE ESTAVA TUDO BEM NO RGS!!


Minha resposta, como no artigo do jornal GZH foi:


NÃO, AINDA NÃO ESTÁ TUDO BEM


Segue aí um bom artigo que ilustra bem isto, clique sobre a imagem ou baixe o PDF com a matéria completa.




OS CENÁRIOS DESTE NOSSO CONTEÚDO

Vou trabalhar com dois pontos principais para guiar você e fazê-lo entender onde quero chegar e a importância do conteúdo que quero apresentar aqui: MINHA INFÂNCIA e a MAIOR DAS MAIORES ENCHENTES DE TODOS OS TEMPOS!!


O PRIMEIRO CENÁRIO

MINHA INFÂNCIA - 08.07.1983 - IRAÍ E A SUA MAIOR ENCHENTE

Nasci numa cidade pequena ao norte do estado do Rio Grande do Sul, chamada Iraí. Uma cidade linda de +- 7.000 habitantes. 

Iraí com todas as suas belezas naturais e simplicidade, tem uma característica geográfica importante: ela é “rodeada” por 3 rios: O Rio Uruguai, o maior deles e também é o rio que faz a divisa entre o estado do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o rio da Várzea, situado a oeste da cidade e que desemboca no Rio Uruguai e o Rio do Mel que praticamente passa “dentro” da cidade, colado nela e que também desemboca no Rio Uruguai. Vocês podem ter uma ideia melhor clicando na imagem aérea do Google Maps.


Imagem aérea da Cidade de Iraí - RS - Google Maps
[Imagem aérea da Cidade de Iraí - RS - Google Maps]

Meu pai era empresário do setor de bebidas e distribuidor da Antarctica na cidade. Morávamos na parte “alta” da cidade, logo na entrada da mesma. Naquela época para fazer a distribuição, meu pai possuía uma caminhonete Ford F-4000 e um caminhão Mercedes-Benz L-1113

Iraí, pelas características geográficas, quase todo o ano, especialmente nos meses de Julho e Agosto,  acontece algum evento relacionado a cheias dos rios e enchentes.



Assista ao vídeo acima e leia esta matéria (Clique na imagem) para ter uma melhor noção do que estou falando:

1983 0 ANO QUE NÃO SAIU DA MEMÓRIA

Mas aquele ano de 1983 seria diferente, muito, mas muito diferente…

Era cedo da manhã, quando tocou o telefone e um dos colaboradores do pai havia pedido ajuda urgente para retirar freezers, geladeiras e móveis do bar que ele mantinha no camping da cidade que ficava na beira do Rio do Mel.

Foi uma correria para descarregar a camionete e irmos para lá. Passamos a pequena ponte sobre o rio e já dava para ver que estava próximo de transbordar o seu leito, algo, naquele local, em torno de uns 5 a 6 metros. 

Colocamos tudo que a gente podia e de valor na camionete e ao terminar, a água do rio já estava entrando pela porta do bar.

Nunca mais saiu da minha memória aquela imagem: “LITERALMENTE DAVA PARA VER O RIO SUBINDO”

Sem entender muita coisa, saímos correndo para tentar voltar pela ponte, porém a água já estava batendo embaixo dela e achamos arriscado demais cruzar. 

Por sorte a estrada tinha uma saída por cima que levaria uma hora a mais mas conseguiríamos chegar em segurança de volta ao depósito.

Descarregamos os móveis e o pai ordenou que esvaziássemos a camionete e o caminhão e fossemos correndo para a beira do rio ajudar a carregar os móveis das famílias que necessitassem de auxílio.


Vou deixar alguns vídeos e reportagens que coletei, tanto de Iraí quanto de cidades próximas e de outros estados que foram impactadas por aquele episódio tão devastador.

(Clique nas imagens para acessar os conteúdos)



AUXILIANDO OS NECESSITADOS - O PRIMEIRO CONTATO COM A NEGAÇÃO E SEUS EFEITOS

Chegamos nas famílias mais ribeirinhas para ajudar a retirar o que desse antes do rio chegar. Chegamos na primeira família e lembro do nosso pessoal (colaboradores que trabalhavam com meu pai) falando: Vocês querem ajuda para retirar os móveis, e os objetos de maior valor antes do rio chegar? 

Outra lembrança forte para mim: A resposta do Sr daquela casa foi algo assim: - “Não precisamos de ajuda, capaz que o rio vai chegar aqui, nem dá para ver ele. Muito obrigado.”

Fomos para a próxima casa: - “Vocês tem certeza que o rio vai chegar aqui?” E o pessoal: - “Sim, nós vimos ele subindo e está subindo numa velocidade que nunca tínhamos visto!!”

Então auxiliamos aqueles moradores… Estávamos quase saindo com a camionete carregada quando o primeiro morador, desesperado, nos abordou e pediu pelo amor de Deus que a gente levasse alguma coisa pois o rio já estava batendo no assoalho da sua casa!!! Pouco ou quase nada conseguimos fazer. Todos sabiam que não daria tempo de levar os móveis que estavam na camionete, voltar e ajudar… E assim foram dias de intensos trabalhos de ajuda para recolher o que era possível de cada morador.


Naquela época eu tinha 14 ANOS!!

Sabe o que nunca saiu da minha mente?

  • A VELOCIDADE QUE O RIO SUBIA

  • AS IMAGENS DA TRAGÉDIA. Especialmente das casas 100% submersas e das pessoas sendo resgatadas de barco.

  • A GENTE ANDANDO DE BARCO POR ONDE ANTES ERA RUA: Andávamos de barco e o remo as vezes “enroscava” nos cabos de alta tensão dos postes de energia elétrica ou o barco raspava no teto das casas.

  • O QUANTO O RIO URUGUAI SUBIU E SAIO DO SEU LEITO: 13 metros!!

  • EU SENTADO NA BEIRA DA BR-386 AO LADO DO RIO URUGUAI: Vendo passar: animais mortos, casas inteiras, árvores, postes, móveis, tudo pelo rio que antes ficava 13 metros abaixo de onde eu estava!!

  • ATÉ ONDE O RIO MEL SUBIU, QUASE DESTRUINDO O BALNEÁRIO MUNICIPAL DE ÁGUAS TERMAIS - OSVALDO CRUZ


E vários outros fragmentos dolorosos… 


O BALNEÁRIO DE ÁGUAS TERMAIS MANTÉM AS MARCAS DAS PRINCIPAIS ENCHENTES:


[Fonte das fotos Trip Advisor]


Na foto bem a direita, clique para ver a data desta enchente de 1983 (08.07.1983)

Faltou exatamente 1 palmo de mão para as águas invadirem a estrutura completamente!!


A BEM DA VERDADE E O QUE DE FATO NUNCA SAIU DA MINHA CABEÇA FOI UMA PERGUNTA:


PORQUE ALGUMAS PESSOAS ENTENDERAM A SITUAÇÃO E ACEITARAM AJUDA E PORQUE OUTRAS SIMPLESMENTE NÃO FIZERAM NADA DIANTE DA TRAGÉDIA EMINENTE E PERDERAM TUDO??


A DESCOBERTA DO COMPORTAMENTO DA NEGAÇÃO

Em momentos de crise, como a iminência de uma enchente ou furacão, é comum observarmos pessoas que, mesmo diante de evidências claras de perigo, NÃO tomam as precauções necessárias. Esse comportamento, conhecido como NEGAÇÃO, é um mecanismo de defesa estudado há décadas pela psicologia. 


Quero com este conteúdo, explorar o que leva os indivíduos a negar perigos iminentes e as implicações desse comportamento, baseando-nos em teorias e estudos científicos, para colocar uma luz naquilo que vivi na minha cidade natal Iraí, aos 14 anos de idade e por tanto tempo carreguei comigo.


PERGUNTAS QUE ME INCOMODARAM DURANTE ESTES ANOS


Durante este tempo todo, e ainda hoje, tenho perguntas que ficam me rondando…

Até o final deste conteúdo, você e eu teremos algumas respostas ou ao menos mais CONSCIÊNCIA sobre o tema:


  • Por que a NEGAÇÃO é uma reação tão comum em momentos de crise?

  • Quais os fatores sociais e culturais que influenciam a forma como as pessoas reagem a desastres?

  • Como a mídia e as redes sociais podem amplificar ou atenuar a NEGAÇÃO?

  • Quais as implicações da NEGAÇÃO para os processos de socorro e recuperação?

  • Como podemos cuidar melhor da nossa saúde mental para poder lidar com a NEGAÇÃO e o TRAUMA?


Vamos aprofundar…


O CONCEITO DE NEGAÇÃO

A NEGAÇÃO é um dos mecanismos de defesa identificados pela primeira vez por Sigmund Freud. De acordo com Freud, a negação é um processo INCONSCIENTE através do qual uma pessoa SE RECUSA a aceitar a realidade de uma situação dolorosa ou ameaçadora. 


Ao negar a realidade, o indivíduo tenta PROTEGER-SE do estresse emocional que a situação provocaria.

Vamos então dar uma olhada em alguns estudos importantes sobre o tema da NEGAÇÃO:


TEORIAS PSICOLÓGICAS RELACIONADAS À NEGAÇÃO

  1. TEORIA PSICANALÍTICA: Além de Freud, Anna Freud, sua filha, expandiu o conceito de mecanismos de defesa. A NEGAÇÃO, nesse contexto, é vista como uma maneira do ego PROTEGER-SE de ansiedades insuportáveis. Em situações de emergência, essa ansiedade pode ser provocada pelo medo da perda de bens materiais, da segurança ou até da própria vida.

  2. TEORIA DA DISSONÂNCIA COGNITIVA: Desenvolvida por Leon Festinger, essa teoria sugere que as pessoas têm uma necessidade interna de GARANTIR que suas crenças e comportamentos sejam CONSISTENTES. Quando há uma DISSONÂNCIA, como a evidência de um furacão iminente ou da chegada de uma enchente versus a crença de que "isso não pode acontecer comigo", o indivíduo pode optar por NEGAR o perigo para REDUZIR o DESCONFORTO MENTAL.

  3. TEORIA DO CONTROLE DE PERCEPÇÃO: Essa teoria sugere que as pessoas negam perigos quando acreditam que TÊM CONTROLE sobre a situação. Por exemplo, alguém pode pensar que pode enfrentar uma enchente ou que o furacão não será tão forte quanto preveem os meteorologistas. Outro exemplo que vemos muito é em casos de alta montanha em escaladas de grandes dificuldades.


OUTROS ESTUDOS CIENTÍFICOS SOBRE A NEGAÇÃO EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA

  • ESTUDO DE WEINSTEIN (1980): Neil Weinstein conduziu estudos sobre o otimismo irreal, onde descobriu que muitas pessoas tendem a acreditar que são menos suscetíveis a perigos do que outras. Esse otimismo irreal pode levar à negação de riscos graves, como desastres naturais. Seu estudo mais importante é "Unrealistic Optimism About Future Life Events" e deixo aqui dois estudos dele, caso queira evoluir.




  • PESQUISA DE TEUN TERPSTRA ET AL. (2009): Em um estudo sobre respostas a alertas de enchentes na Holanda, Teun Terpstra e seus colegas descobriram que a NEGAÇÃO estava frequentemente associada à falta de experiência pessoal com enchentes e a uma confiança excessiva nas medidas de proteção existentes. Se você estiver procurando pelo artigo específico, acesse ele aqui:


  • ESTUDO DE MORSS ET AL. (2015): Em pesquisas sobre a resposta pública a alertas de furacões nos Estados Unidos, Rebecca Morss e seus colegas encontraram que a NEGAÇÃO do risco estava ligada a uma confiança equivocada na própria capacidade de enfrentar o desastre e a uma desconfiança nas previsões meteorológicas. Caso queira aprofundar mais leia o artigo aqui: Morss, R. E., Demuth, J. L., & Lazo, J. K. (2015). "The perception of hurricane risks: Implications for the communication of forecast uncertainty." Bulletin of the American Meteorological Society, 96(5), 717-728. Acesse também este conteúdo que é bastante válido sobre o estudo. 



A ABORDAGEM DE SIGMUND FREUD

Foto de Sigmund Freud, por Max Halberstadt
[Sigmund Freud, por Max Halberstadt (Wikipedia)]

Freud descreveu a NEGAÇÃO como um processo INCONSCIENTE através do qual uma pessoa se recusa a aceitar a realidade de uma situação que é muito dolorosa ou ameaçadora para ser enfrentada. Em vez de reconhecer a verdade desconfortável, a pessoa nega sua existência. Esse mecanismo ajuda a aliviar a ansiedade e o estresse emocional, permitindo que o indivíduo continue a funcionar sem enfrentar diretamente a fonte do seu desconforto.

Por exemplo, em situações de emergência, como a iminência de uma enchente ou furacão, a negação pode se manifestar na forma de pensamentos como "Isso não vai acontecer aqui" ou "Não vai ser tão grave". Esses pensamentos ajudam o indivíduo a evitar o pânico e a manter a calma, embora possam também impedi-lo de tomar ações necessárias para proteger-se.


A ABORDAGEM DE ANNA FREUD

Foto de Anna Freud filha de Sigmund Freud - 1957
Anna Freud - 1957 [Wikipedia]

Anna Freud, filha de Sigmund Freud, aprofundou e expandiu os estudos sobre os mecanismos de defesa. Em sua obra clássica "O Ego e os Mecanismos de Defesa" (1936), Anna Freud descreveu detalhadamente vários mecanismos de defesa, incluindo a NEGAÇÃO.

Anna Freud focou em “como” os mecanismos de defesa são utilizados pelas crianças e como eles evoluem ao longo do desenvolvimento. Ela concordou com a visão de seu pai de que os mecanismos de defesa são estratégias inconscientes usadas pelo ego para proteger-se de ansiedades e conflitos internos. No entanto, ela trouxe uma perspectiva mais aplicada e observacional ao estudo desses mecanismos.

  • NEGAÇÃO EM CRIANÇAS: Anna Freud observou que as crianças frequentemente utilizam a negação como uma forma de lidar com situações que não conseguem compreender completamente ou que são muito assustadoras para elas. Por exemplo, uma criança pode negar a gravidade de uma doença ou a perda de um ente querido como uma forma de proteção emocional.

  • DESENVOLVIMENTO AO LONGO DA VIDA: Anna Freud destacou que, embora a negação seja comum na infância, ela pode persistir na vida adulta em formas mais sofisticadas. Adultos podem negar a realidade de perigos iminentes como uma forma de manter a estabilidade emocional e evitar o estresse.


DIFERENÇAS ENTRE AS ABORDAGENS DE SIGMUND E ANNA FREUD

Embora ambos os Freuds considerem a negação como um mecanismo de defesa importante, suas abordagens diferem em alguns aspectos:

  • SIGMUND FREUD: Concentrou-se mais na origem e na função dos mecanismos de defesa no contexto dos conflitos entre o id, o ego e o superego.

  • ANNA FREUD: Focou-se mais em como esses mecanismos se manifestam e evoluem ao longo da vida, especialmente na infância, e como podem ser observados e tratados na prática clínica.


IMPLICAÇÕES DA NEGAÇÃO EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA

A compreensão da NEGAÇÃO através das lentes freudianas pode ajudar a explicar por que muitas pessoas NÃO RESPONDEM ADEQUADAMENTE a ameaças claras e presentes, como enchentes ou furacões. A NEGAÇÃO pode servir como um AMORTECEDOR EMOCIONAL, permitindo que o indivíduo continue a funcionar normalmente diante de informações perturbadoras. 


No entanto, essa proteção emocional pode ser contraproducente em situações onde a ação imediata é crucial para a segurança pessoal.

 

O SEGUNDO CENÁRIO

29 DE ABRIL DE 2024 - A MAIOR DAS MAIORES ENCHENTES

Os vídeos abaixo falam por sí!





Honestamente não quero me debruçar em mostrar o que foi esta tragédia recentemente vivida por todos nós aqui no Rio Grande do Sul.

Acredito que as imagens e o vasto trabalho dos veículos de mídia muito bem retrataram.


Vamos voltar a minha história….


41 ANOS DEPOIS… A HISTÓRIA SE REPETE!

DIA 28 DE ABRIL DE 2024, DOMINGO! 


Eu sai com minha família para conhecer um shopping relativamente novo aqui em Porto Alegre, chamado Pontal Shopping, um local muito bonito e agradável, as margens do Lago/Rio Guaíba.

Chovia muito a alguns dias e cansados de ficar em casa, fomos almoçar neste shopping. Chegando lá, uma caminhada para conhecer as dependências… me aproximei da parte externa do shopping para ver o Lago/Rio Guaíba e BUMMM!!! 


COMO SE UM GATILHO TIVESSE DISPARADO EM MINHA MENTE!! 

PEGUEI O TELEFONE E FIZ ESTE VÍDEO E LOGO CHAMEI MINHA ESPOSA:



“Faby, tem algo errado com o rio. Não pode ter ESTA correnteza acontecendo… Olha a quantidade de “coisas” que estão passando. Isto é um lago e não um rio de fortes correntezas. Não pode estar certo isto. Definitivamente não pode!!”

TODAS AS LEMBRANÇAS VIERAM A MINHA MENTE!! AQUILO TUDO DE 1983 ESTAVA PRESTES A SE REPETIR AGORA EM 2024!!!


E de fato, no dia seguinte, isto mesmo o que você ouviu… no DIA SEGUINTE a nossa ida a este shopping, aconteceu o maior desastre climático da história do Rio Grande do Sul.


Toda aquela região das imagens do vídeo, em menos de 24 horas, fora inundada.


Na terça-feira, peguei meu telefone e liguei para um amigo que tinha uma empresa num bairro relativamente “distante” do Guaíba e falei para ele: - “Vamos reunir um pessoal e ir aí retirar o que é mais importante e elevar tudo para o segundo andar, pois a enchente VAI chegar!” 

Meu amigo, não acreditou no que eu estava dizendo, falou que não tinha como chegar ali, era “muito longe do Rio”. Insisti que ele deveria sair a pé e ver a quantas quadras estava o rio para se certificar pois eu tinha certeza que iria chegar

Comentou que iria “trocar uma ideia” com o sócio e qualquer coisa me ligava de volta. Agradeceu e desligamos.

Liguei para outro amigo em comum e comentei a mesma coisa e se ele precisava de ajuda que poderia vir com a família dormir em casa. Disse que iria ficar de olho no rio e agradeceu.


Acordei no outro dia, assustado com algo na minha cabeça: Sim o meu amigo!! Vou ligar para ver com está a situação e se precisa de ajuda:


- “Deivis, tu tinha razão… a água chegou e não conseguimos entrar mais, o bairro está ilhado, o local… PERDI TUDO!!!”

E assim foram incontáveis casos REVIVIDOS.


Agora assista estes dois vídeos:


Primeiro veja este do Instituto Cultura Floresta e preste atenção nos carros das locadoras de automóveis na proximidade do aeroporto Salgado Filho de Porto Alegre. Clique na imagem para assistir ou diretamente neste link


INACREDITÁVEL NÃO?


Agora assista este outro com bastante atenção:



 Veja a situação destas empresas, concessionárias de automóveis:


A PERGUNTA QUE QUERO REFORÇAR AQUI É:


PORQUE ESTAS PESSOAS, ESTES EMPRESÁRIOS, NÃO RETIRARAM ESTES AUTOMÓVEIS??? PORQUE NÃO LEVARAM ESTES CARROS PARA UM ESTACIONAMENTO SEGURO? UM SHOPPING CENTER SITUADO NA PARTE ALTA DA CIDADE OU ALGO SIMILAR?

Coleciono incontáveis casos de pessoas que “NÃO FIZERAM PRATICAMENTE NADA, ATÉ A ÁGUA CHEGAR!!!”


E mais, você sabia que uma delas, RETIROU TODOS os veículos ANTES da enchente chegar e que usou alguns dos veículos que era para “test-drive” dos clientes, para auxiliar as vítimas da enchente? Criando ainda uma propaganda positiva pois os veículos eram carros tracionados 4x4!!


Você viu alguma diferença em relação aos relatos da minha infância? Alguma diferença, sobre este tema da NEGAÇÃO entre as enchentes de 1983 e agora de 2024? 


ZEROOOO!!! TUDO ABSOLUTAMENTE IGUAL EM 41 ANOS!!


 

TEORIA DO CONTROLE DE PERCEPÇÃO (TCP)

A TEORIA DO CONTROLE DE PERCEPÇÃO (TCP) é uma abordagem desenvolvida por William T. Powers nos anos 1950 e 1960. Esta teoria é uma contribuição significativa para a psicologia e a ciência comportamental, fornecendo uma visão alternativa sobre como os organismos controlam suas ações e interagem com o ambiente.


A TEORIA DO CONTROLE DE PERCEPÇÃO se baseia na ideia de que os organismos, incluindo os seres humanos, não apenas reagem PASSIVAMENTE aos estímulos externos, mas ATIVAMENTE controlam suas percepções do ambiente para alcançar estados desejados.


O principal livro de William T. Powers sobre a Teoria do Controle de Percepção é "Behavior: The Control of Perception" (1973). Este livro é fundamental para entender a teoria e é a principal referência sobre o tema.

Outro livro relevante é "Making Sense of Behavior: The Meaning of Control" (1998), que também aborda a TEORIA DO CONTROLE DE PERCEPÇÃO (TCP) de forma detalhada.


CONCEITOS PRINCIPAIS

  • PERCEPÇÃO CONTROLADA: A percepção não é apenas uma resposta aos estímulos externos, mas algo que os organismos ATIVAMENTE controlam. O comportamento é visto como a forma pela qual os organismos CONTROLAM suas percepções.

  • REFERÊNCIAS INTERNAS: Os organismos têm REFERÊNCIAS INTERNAS ou ESTADOS DESEJADOS que tentam alcançar. Esses estados podem ser níveis de conforto, segurança, ou outras metas pessoais.

  • LAÇOS DE FEEDBACK: O controle de percepção é realizado através de LAÇOS DE FEEDBACK, onde o comportamento é ajustado constantemente para reduzir a discrepância entre a percepção atual e a referência desejada.

  • ERRO DE CONTROLE: Quando há uma DIFERENÇA entre a PERCEPÇÃO ATUAL e o ESTADO DESEJADO, ocorre um "erro". O comportamento é então ajustado para minimizar esse erro.


MECANISMOS DE CONTROLE

  • INPUT PERCEPTUAL: A informação recebida dos sentidos.

  • COMPARADOR: Compara a percepção atual com a referência interna.

  • ERRO DE SAÍDA: A diferença entre a percepção e a referência, que impulsiona o comportamento corretivo.

  • AÇÃO: Comportamento resultante que altera o ambiente ou a percepção para reduzir o erro.


CONTROLE DE TEMPERATURA

Powers utilizou o exemplo de um termostato para ilustrar a TEORIA DO CONTROLE DE PERCEPÇÃO (TCP). 

O termostato controla a temperatura de um ambiente comparando a temperatura atual (PERCEPÇÃO) com a temperatura desejada (REFERÊNCIA). Se a temperatura atual está abaixo da desejada, o termostato ATIVA o aquecedor (comportamento) até que a discrepância seja eliminada.

Pesquisas subsequentes aplicaram a TEORIA DO CONTROLE DE PERCEPÇÃO (TCP) em diversas áreas, incluindo terapia comportamental, ergonomia e psicologia organizacional, mostrando a utilidade da teoria em entender como as pessoas ajustam seu comportamento para alcançar estados desejados.


MECANISMOS DE REDUÇÃO DA DISSONÂNCIA

Para reduzir a dissonância, as pessoas podem:

  • MUDAR UMA DAS COGNITIVAS: Alterar uma crença, atitude ou comportamento para torná-los consistentes. Por exemplo, parar de fumar para alinhar o comportamento com a crença de que fumar é prejudicial.

  • ADICIONAR NOVAS COGNITIVAS CONSISTENTES: Introduzir novas crenças que justifiquem ou explicam a inconsistência. Por exemplo, acreditar que fumar relaxa e, portanto, tem um benefício.

  • REDUZIR A IMPORTÂNCIA DAS COGNITIVAS CONFLITANTES: Minimizar a importância da inconsistência. Por exemplo, desconsiderar os riscos de fumar dizendo que muitas pessoas fumam e vivem até idades avançadas.


TEORIA DO CONTROLE DE PERCEPÇÃO (TCP) EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA

Em situações de emergência, como a iminência de uma enchente, a TCP pode ajudar a explicar por que algumas pessoas NEGAM o perigo:

  • REFERÊNCIA DE SEGURANÇA: As pessoas têm uma referência interna de segurança e normalidade em suas vidas diárias.

  • PERCEPÇÃO DE AMEAÇA: Avisos de emergência criam uma percepção de ameaça que não se alinha com a referência de segurança.

  • ERRO PERCEPTUAL: A discrepância entre a percepção de ameaça e a referência de segurança gera um erro perceptual.

  • COMPORTAMENTO DE NEGAÇÃO: Para reduzir esse erro, algumas pessoas podem adotar comportamentos de NEGAÇÃO, ajustando sua percepção da ameaça ("isso não vai acontecer comigo") em vez de alterar suas ações (evacuar ou tomar medidas de proteção).


Você consegue entender agora, com base no que vimos acima, a diferença do MEU comportamento, do comportamento das pessoas com que eu falei sobre a chegada da enchente? 

Eu tinha vivido aquilo por vários anos e MANTINHA em minha memória a AMEAÇA e a REFERÊNCIA, as outras pessoas NÃO.


Agora que você tem mais clareza, que a grande maioria das pessoas de 2024, não viveram a enchente de 1941, que até então fora a maior enchente de Porto Alegre, ou qualquer outra nestas proporções, portanto NÃO TINHAM NENHUMA REFERÊNCIA ou TINHAM REFERÊNCIAS FRACAS e assim não conseguiram REDUZIR O ERRO indo em direção a um COMPORTAMENTO CORRETIVO ADEQUADO A SITUAÇÃO!!


IMPLICAÇÕES PRÁTICAS - DICAS PARA LIDAR COM A NEGAÇÃO EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA

Compreender estas teorias e estudos que trouxe para você aqui, é antes de qualquer coisa FORNECER CONSCIÊNCIA sobre estes temas e como nós humanos funcionamos. A partir daqui, podemos então desenvolver ações e estratégias para melhorar a resposta a emergências.


Quero trazer aqui alguns “insights” para você dar sequencia neste conteúdo, de forma prática:


  • RECONHEÇA OS SINAIS DE NEGAÇÃO

    • Autoconsciência: Fique atento a pensamentos como "Isso não vai acontecer comigo" ou "Não é tão sério assim". Esses pensamentos podem ser indicativos de NEGAÇÃO.

    • Busca de Validação Externa: Se sentir inseguro, procure confirmar as informações com fontes confiáveis, como autoridades locais, meteorologistas ou profissionais de saúde mental.


  • EDUQUE-SE E ESTEJA INFORMADO

    • Mantenha-se Atualizado: Siga as previsões meteorológicas e as orientações das autoridades. Quanto mais informado você estiver, menor será a probabilidade de recorrer à negação.

    • Aprenda Sobre Mecanismos de Defesa: Entender que a negação é uma reação comum pode ajudar a reconhecê-la e superá-la.

    • Eduque-se e Eduque o Próximo: Ensinar as pessoas e a nós mesmos a reconhecer sinais de perigo e ajustar suas referências internas para melhor alinhar com a realidade das ameaças. Criar Programas de educação que informam sobre os riscos reais e fornecem evidências concretas podem ajudar a reduzir a negação.


  • PLANEJE COM ANTECEDÊNCIA

    • Monte um Kit de Emergência: Ter um kit de emergência preparado pode reduzir a ansiedade e a tentação de negar o perigo iminente.

    • Planeje Rotas de Evacuação: Saber para onde ir e como chegar lá durante uma emergência pode ajudar a combater a negação, tornando a ameaça mais tangível e gerenciável.


  • PRATIQUE A COMUNICAÇÃO ABERTA

    • Converse Sobre Suas Preocupações: Compartilhar seus medos e dúvidas com amigos, familiares ou vizinhos pode ajudar a validar suas emoções e reduzir a negação.

    • Escute os Outros: Se alguém próximo expressa preocupações sobre a situação, leve-as a sério e considere agir em conjunto.

    • Mantenha uma Comunicação Aberta: Fornecer informações claras e precisas para ajudar as pessoas a ajustar suas percepções de risco de forma mais precisa. Utilizar mensagens claras e repetitivas, que enfatizem a gravidade da situação e ofereçam instruções precisas sobre o que fazer, pode ser eficaz.


  • PARTICIPE DE TREINAMENTOS E SIMULAÇÕES

    • Participe de Exercícios de Evacuação: Envolva-se em simulações comunitárias de resposta a desastres. Essas práticas tornam a ideia de um desastre mais concreta e podem reduzir a negação.

    • Eduque-se Sobre Primeiros Socorros: Aprender habilidades básicas de primeiros socorros pode aumentar sua confiança e capacidade de resposta.


  • CULTIVE O AUTOCUIDADO E O BEM-ESTAR MENTAL

    • Pratique Técnicas de Relaxamento: Meditação, respiração profunda e exercícios de relaxamento podem ajudar a reduzir a ansiedade que leva à negação.

    • Mantenha uma Rotina de Sono Saudável: O sono adequado fortalece a resiliência emocional, ajudando a enfrentar a realidade de forma mais clara e equilibrada.


  • PROCURE APOIO PSICOLÓGICO

    • Terapia Individual ou em Grupo: Considerar a busca de ajuda profissional para lidar com o trauma e a ansiedade associados a desastres climáticos. Psicólogos e terapeutas especializados podem oferecer estratégias para lidar com a negação e o medo.

    • Participação em Grupos de Apoio: Grupos de apoio comunitários podem ser úteis para compartilhar experiências e estratégias de enfrentamento com outras pessoas que passaram por situações semelhantes.


  • PRATIQUE A EMPATIA E O APOIO COMUNITÁRIO

    • Ajude seus Vizinhos: Ofereça ajuda para preparar kits de emergência ou planejar evacuações. O apoio mútuo pode reduzir a negação e promover uma resposta coletiva mais eficaz.

    • Compartilhe Informações Verificadas: Ajude a combater rumores e informações incorretas, compartilhando apenas informações confirmadas e úteis com sua comunidade.


  • REFLITA E APRENDA COM A EXPERIÊNCIA

    • Avalie Suas Ações Após o Evento: Depois de uma tragédia, reflita sobre como você reagiu e o que poderia ser feito de forma diferente. Isso pode ajudar a preparar-se melhor para futuros eventos.

    • Aprenda com o Passado: Estudos de casos anteriores de desastres podem fornecer insights valiosos sobre como superar a negação e agir prontamente.


  • ENVOLVA-SE EM ATIVIDADES DE RESILIÊNCIA COMUNITÁRIA

    • Participe de Iniciativas de Prevenção: Envolva-se em esforços comunitários para construir infraestruturas mais resistentes a desastres, como sistemas de alerta precoce e outras melhorias.

    • Eduque Outros: Compartilhe suas experiências e o que você aprendeu com a NEGAÇÃO e o trauma para ajudar a fortalecer a comunidade contra futuros desastres. Compartilhar histórias de pessoas que passaram por situações semelhantes e sobreviveram tomando precauções pode ajudar a quebrar a barreira da negação.

    • Rede de Apoio: Criar redes de apoio que ajudem as pessoas a ajustar suas percepções e comportamentos de forma colaborativa.


Tragédias climáticas, como as enchentes no Rio Grande do Sul, nos desafiam de formas profundas, tanto física quanto emocionalmente. Reconhecer a NEGAÇÃO e o TRAUMA como reações humanas naturais a essas situações é o primeiro passo para SUPERÁ-LAS. 

Ao aplicar essas dicas práticas e desenvolver uma maior CONSCIÊNCIA de nossas próprias RESPOSTAS EMOCIONAIS, podemos nos preparar melhor para enfrentar futuras crises de maneira SAUDÁVEL e EFICAZ.



 

FONTES DESTA PUBLICAÇÃO

LIVROS

ARTIGOS
 

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